As estruturas hidráulicas estão sujeitas a falha. O risco de enchentes é cada vez mais eminente!
Basta vermos os noticiários de fim de ano sobre alagamentos, inundações, enchentes e seus danos causados à população / municípios.
A questão em pauta é, na verdade, o manejo desse risco.
Como administrar o risco de enchentes de modo a minimizar as perdas causadas por enchentes e minimizar os custos de implantação/manutenção das nossas obras hidráulicas?
Você deve observar que há objetivos conflitantes nesse problema!
Ao passo que para evitar enchentes é necessário, por exemplo, canais maiores, galerias maiores e dispositivos maiores, mais dinheiro proveniente do poder público é necessário para a construção e principalmente manutenção desses dispositovos.
Então temos a primeira relação:
Quanto mais dinheiro gasto → Mais segurança → Mais caro para o poder público → Menos danos para a população → Menos risco
Por outro lado, imagine agora um cenário em que não fazemos nada.
Deixamos a impermeabilização aumentar excessivamente os escoamentos e deixamos o estrago acontecer nos pontos mais baixos, causando transtornos nas vias públicas, proliferação de doenças de veiculação hídrica, perdas em comércios, residências e, inclusive, em alguns casos, perdas humanas.
Chegamos na nossa segunda relação:
Quanto menos dinheiro gasto → Menos segurança → Mais barato para o poder público → Mais danos para a população → Mais risco
Observe que com essa atitude, propagamos o risco para quem é mais vulnerável: a população.
Mas você entende que no final do dia é apenas manejar/transferir o risco para algo ou alguém?
Evidentemente obras hidráulicas podem diminuir riscos de enchentes, mas ainda há riscos.
A questão é, o que vale mais a pena? Não é uma resposta obvia pois dependendo do local onde há as inundações, pode ser que não haja moradias, tampouco comércios.
Contudo, quando falamos de obras públicas, o fator financeiro fala bem alto.
Desse modo, devemos como técnicos buscar uma obra que minimize as perdas causadas por enchentes, mas que também de certa forma minimize o custo de implantação/manutenção da nossa intervenção.
Uma maneira de analisar os custos envolvidos nas obras de drenagem é a análise econômica baseada em valor presente líquido (VPL).
Pensando em nível de projeto, podemos considerar o valor presente líquido de nossa obra hidráulica considerando implantação e manutenção e podemos considerar também os benefícios que ela traria por evitar, por exemplo, danos aos comércios, ao trânsito, à infraestrutura urbana, à população e etc.
Evidentemente alguns danos não são facilmente mensuráveis, alguns se quer podem ser. Porém, esse é um caminho. A figura 1 mostra um gráfico esquemático de como varia o custo de implantação, e o benefício dessa obra de acordo com o tempo de retorno adotado.
Observa-se que o ponto ótimo é aquele que maximiza os benefícios para dado custo, isto é, que maximiza o que chamamos de benefício líquido, que é a diferença entre benefício e custo.
Assim, é possível definir o tempo de retorno ideal!
Para obras de maior porte, nos estudos de viabilidade devem ser feitas análises econômicas das alternativas de modo a escolher o melhor tempo de retorno para adotar.
Evidentemente que obras como vertedores de barragens, pistas de pouso de aviões e outras obras de maior responsabilidade, o custo de implantação/manutenção não é comparável com o dano causado.
Nesses casos, adotam-se tempos de retorno bem maiores. No caso do vertedor de uma barragem, é comum a adoção da vazão deca-milenar para o seu cálculo, justamente para evitar o risco de um extravasamento pela lateral de uma barragem.
Desse modo, espera-se que o leitor entenda que o manejo do risco e, portanto, escolha do tempo de retorno é uma das decisões mais importantes em um projeto de drenagem urbana.
Sua avaliação deve ser feita levando deve levar em conta aspectos físicos, de meio ambiente, sociais, porém infelizmente muitas vezes o aspecto político prevalece, o que em algumas obras pode significar subdimensionamentos ou superdimensionamentos.
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